O termo Infraestrutura tem como significado a base invisível que suporta a construção, ou seja todo o apoio, planejamento e suporte necessário para realizar projetos públicos e particulares.
Desde a chegada da modernidade nas cidades, a construção tem se embasado na infraestrutura cinza, aquela baseada na inovação da época, utilizando materiais como concreto e asfalto, impermeabilizando o solo e tomando conta de locais arborizados e naturais. Esse processo empírico criado pelos arquitetos e engenheiros, jaz presente até hoje e nos traz muitos problemas ambientais e sociais, onde diminuímos cada vez mais a quantidade de água que vai para o solo, retiramos cada vez mais a arborização prejudicando a qualidade do ar e a paisagem urbana, transformando – a em uma grande escala cinza de concreto armado.
São Paulo – Avenida Paulista.
Imagem: Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas
A Infraestrutura verde não é um conceito novo, apesar de estar sendo empregado nos tempos atuais, o primeiro projeto a utilizar essas características foi realizado no século XIX, chamado colar de esmeraldas em boston, reconciliando a cidade com a natureza, onde o espaço das águas é respeitado, assim como a fauna e a flora.
Comparar o método atual com o método sustentável da infraestrutura verde nos faz refletir o que levou a construção civil esconder os rios através de vias, construindo uma cidade acima das águas, desrespeitando a natureza e seu ciclo e não pensando em consequências que poderiam vir para o futuro e ao levar em consideração o nosso desenvolvimento cultural, ás aguas eram tratadas como a aflora de doenças contagiosas, áreas consideradas poluídas, sujas e “mal frequentadas “ onde as pessoas pobres procuram terras a margem de rios para se hospedar, então para “resolução de todos os problemas” o governo decide pavimentar, construir e planejar da forma como vivemos hoje. E então pensamos se o planejamento urbano veio para melhorar a vida humana e modernizar as cidades, porque sofremos tanto com catástrofes como alagamentos, transportes e moradia?
Imagem: Luciana Quierati/UOL
A resposta é simples, precisamos da Natureza, e quando falamos dela não nos referimos apenas a arborização e sim o conjunto completo daquilo que o mundo nos oferece gratuitamente. Para vivermos bem precisamos de ar limpo, sol e água e aí que o planejamento falho de grandes cidades entra.
A partir do momento em que mudamos o curso dos rios, depositamos esgoto e insumos químicos poluindo suas águas, prejudicamos a nossa própria cidade, seu percurso minúsculo canalizado embaixo das ruas não consegue dar conta da quantidade de água e assim transborda, inundando casas, carros e levando tudo o que tiver pela frente. Assim como construções que não levam a topografia em consideração, não buscam meios de integrar a natureza ao projeto sofrem com problemas de rachaduras ou até deslize de terra que levam ao desabamento.
O planejamento Urbano também deve estar presente nos meios culturais, a desigualdade social existente no mundo faz com que pessoas de baixa renda busque refúgios, construindo em terrenos irregulares e de risco com métodos construtivos empíricos e modulares, onde em muitos momentos não se encaixam em certos territórios, tornando um perigo aos usuários que por não terem conhecimento, só entendem quando as fatalidades acontecem. Um exemplo é a Cidade de Petrópolis-RJ, o desastre natural atingiu centenas de pessoas chegando a 233 mortos e 4 desaparecidos, encostas de morros cercadas de residências construídas pelos próprios moradores sem nenhum suporte técnico do governo, uma realidade existente em muitos locais que infelizmente vem se repetindo cada vez mais.
Infraestrutura Verde, o caminho para cidades sustentáveis.
Estudar a natureza e sua relação com a construção civil nos traz segurança e uma cidade confortável a todos, além dos benefícios para a cidade, a influência que os elementos naturais causam no nosso corpo contribuindo para as atividades motora e mental são totalmente positivas. Vários estudos elaborados por cientistas comprovam essa eficácia, algumas doenças como depressão, ansiedade, baixa imunidade e problemas cardíacos, possuem uma melhora significativa ao estarmos em contato com a natureza.
A infraestrutura verde será o caminho para construirmos essa dinâmica entre concreto e natureza, ela pode ser realizada em projetos de grande a pequena escala, seu processo de execução está dividido em tipologias que podem ser utilizadas em cada uma das escalas estipuladas. No qual iremos relatar brevemente o funcionamento de alguns métodos mais utilizados e pertinentes na infraestrutura verde, determinadas na ordem de grande, média e pequena escala.
A lagoa pluvial, são bacias de retenção que possuem a mesma funcionalidade dos famosos piscinões, são grandes áreas construídas para a retenção da água da chuva, sendo filtrada pela vegetação existente e facilitando a drenagem dela para o solo. A lagoa não é preparada para receber águas como de esgoto, apenas águas pluviais. Sua diferença para os piscinões é que além de uma área de retenção, em épocas de seca, torna-se uma área de estar e lazer, ajudando com a qualidade ambiental da cidade. Sua execução é feita com corte no terreno e a plantação de vegetação apropriada que ajuda na drenagem da água. Um exemplo é a Lagoa Meadowbrook em Seattle, ela se tornou um importante habitat de pássaros e espécies de vida silvestre na cidade.
Lagoa Meadowbrook, Seattle, Washington
(Imagem: Nathaniel S. Cormier)
Biovaletas ou valetas de biorretenção vegetadas, possuem um design parecido com os modelos convencionais de valetas, porém com outro método, as aberturas nas laterais das calçadas são feitas para garantir passagem da água até a biovaleta, onde é preparada com composto orgânico e vegetação, ajudando a postergar o tempo de vazão da água, além de executar a filtragem dela, retirando lixos e macro impurezas e assim depositando no sistema de drenagem água limpa. A cidade de Portland por exemplo vem se adequando a infraestrutura verde, onde aplicou a biovaleta em algumas passagens do parque East Esplanade.
A biovaleta do parque East Esplanade em Portland, Oregon
(Imagem: Nathaniel S. Cormier)
Canteiros pluviais, são parecidos com os jardins de chuva, porém para áreas menores, com capacidade de infiltração um pouco menor, também pode receber água dos telhados, ou de outros meios. Por se tratar de um espaço mais compacto, em seu processo de execução é necessário a colocação de uma passagem para o sistema de drenagem convencional, os materiais são parecidos com o jardim de chuva, preparado com britas e composto orgânico e em seguida a vegetação. Diversas cidades já iniciaram o uso desses canteiros, como a de Portland.
Canteiros pluviais junto do New Seasons Market, em Portland, Oregon.
(Imagem: Nathaniel S. Cormier)
Os meios de aplicação da Infraestrutura verde não são utilizados apenas para planejamento urbano ou construções de grande porte, elas podem ser implementadas em projetos menores e em apartamento ou casas, vocês podem verificar algumas dicas em nosso artigo 5 dicas de como deixar seu projeto mais confortável utilizando a natureza.
E partir disso, é notório que se aplicássemos esses e outros conceitos no método de construção, além de erradicar os grandes gastos, ajudando a economia, principalmente para o planejamento urbanos, construiríamos cidades limpas, felizes e vivas!
Autor: Leticia Ravedutti